segunda-feira, 18 de maio de 2020









Você me conhece, sabe que eu sou extremista, preciso passar por cada fase intensamente, não poderia ser diferente com o ‘nosso fim’. Eu sempre tive um carinho todos especial por caixas, não conseguia me desfazer de nenhuma que eu ganhava. Depois de um ‘trauma’ é normal tentar afastar de si as coisas que lhe causam gatilhos negativos...foi o que aconteceu, eu finalmente me desfiz de todas as caixas que eu guardava, restando apenas uma. Essa noite peguei essa única caixa que ficou e fiz dela um baú pra nós. O ritual foi completo, fiz aquela playlist com todas as músicas possíveis de se ouvir quando se está sofrendo por alguém, eu que nem bebo coloquei algumas cervejas no freezer e finalmente peguei a tal caixa. Bebi o primeiro copo com cerveja como quem acaba de chegar do sol e encontra água, acho que tomei na esperança de ‘criar coragem’ e não desistir do que estava prestes a começar a fazer. Peguei o celular e apertei o play na tal playlist que criei. Comecei pela foto no mural, segurei em minhas mãos por uns 5 minutos e olhei firme, lembrei do exato momento em que ela foi tirada, coloquei ela junto com as outras que não estavam expostas e as guardei. Sabe aquela luminária que você ‘me fez comprar’? você não tem ideia da carga de lembranças que eu vejo nela..enquanto a tirava da parede retornei a essas lembranças, algumas me arrancaram sorrisos até. Caixa também pra ela. Peguei alguns ‘bilhetes’ que você costumava me mandar quando a gente se conheceu, li cada palavra com a maior atenção do mundo, tentei conectar cada linha daquela a você, mas parecia sem conexão agora. Por fim, a nossa aliança. Eu já não a usava desde aquele dia que tudo acabou, mas ela sempre estava no meu campo visual como quem esperava a hora certa de voltar para o lugar dela. Nessa hora a lágrima que eu tanto evitei escorreu pelo meu rosto, naquele exato momento eu me permiti chorar por nós. Guarda-la era como finalmente está ‘aceitando’ o nosso fim, era como o último suspiro do nosso amor. Lembro da tarde em que você a me deu, da surpresa e das palavras meio soltas em meio aquele pedido simples, mas tão romântico aos meus olhos. Respirei fundo, dei um último beijo e a guardei junto com as outras coisas. Fiz uma espécie de carta para mim mesma, coloquei nessa folha tudo que o nosso relacionamento tinha de bom e tudo que tinha de ruim também, para caso um dia eu resolva mexer na caixa eu lembre de tudo que eu sentia naquele exato momento, era uma forma de falar comigo no futuro. Segurei a tampa da caixa, virei mais um copo de cerveja em um único gole, respirei fundo e finalmente a fechei. Guardei-a em um lugar no armário de difícil acesso. Peguei o celular e apaguei aquela playlist, como todo o resto, ela foi um momento, não iria ser ‘revivida’ outra vez. Dei uma última olhada em volta para ver se não esqueci nada, foi então que percebi que eu precisava de uma caixa como essa na minha mente, para por lá todas as memórias que eu tinha feito com você.


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